por Jurema Cintra Barreto

advogada militante e as vezes psicóloga dos clientes


Decidi continuar escrevendo sobre o tema. Educação Financeira é um conduta diária, um desafio diário também. E no dia-a-dai da profissão vejo péssimos hábitos. O super-endividado tem uma solidariedade suicida, kamikase. O tal hábito de emprestar o cartão de crédito ou o nome para amigos, parentes e colegas.

Em mesa de audiência ouço frases frequentes:

  • estou pagando por algo que não comprei;
  • emprestei meu cartão;
  • confiei na pessoa mas ela não pagou;
  • ela sempre pagou direitinho a prestação, não sei o que aconteceu desta vez;
  • lá em casa é assim, todo mundo empresta;
  • já empresto cheque a tanto tempo, esta foi a primeira vez…

Eu fico a me perguntar como o nome deve ter tão pouco valor para alguns para você emprestá-lo assim, é como dar um cheque em branco à alguém. São situações absurdas que vejo no cotidiano e nem sempre as soluções são tão fáceis, na maioria das vezes uma boa conversa resolve, o tempo, mas em outras até na justiça é complicadíssimo encontrar um caminho para desatar tantos nós.

Então se você quer muito ter , ou voltar a ter saúde financeira, é preciso se valorizar e aprender dizer NÃO. Amizades acabam por dinheiro, namoro acaba por dinheiro, famílias brigam por dinheiro. Quando você diz não, naquele momento a pessoa pode até ficar com raiva, mas acredite você esta salvado a sua relação com esta pessoa e salvando a mesma também.

Ela não tem saúde financeira para comprar. Você não tem saúde financeira para arcar com um possível(frequente) rombo. Então dê a oportunidade para quem pede refletir sobre seus próprios erros de consumo. Não dá  para comprar o que não se pode, usar o nome do outro é de uma má-fé incrível e emprestar é de uma boa-fé cega.

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Sabemos que as chantagens emocionais são muitas: “aquela pessoa me ajudou tanto, minha companheira de escola, minha prima que aguenta minhas confidências, minha secretária tão dedicada, meu amigão do futebol, sempre legal”. Uma boa convivência não significa solvência, ou seja, capacidade financeira e estabilidade econômica. Neste aspecto precisamos ser frios. Mas é uma frieza para sua própria segurança. Não é mesquinhez, é prudência.

Com as dicas que você já viu aqui, que tal ajudar seu amigo sair do poço, do buraco nefasto que ele se meteu e os dois mudarem de hábito definitivamente?

Eu fico impressionada quando vejo uma fatura de 1500, 3000 reais e a titular me fala que nenhuma das compras é dela, são: primo, da mãe, da avó, da vizinha, do marido da prima, da namorada do irmão. Você tem um cartão com limite alto, tudo bem, mas esse limite é irreal, não é seu, nem de ninguém, é um crédito que só deve ser usado ou para acumular milhas e pontos, ou numa emergência real e com a certeza que no final do  mês você precisará do dinheiro para pagar  a fatura integralmente, por que você já aprendeu como PARAR DE PAGAR JUROS.

Fico mais chocada ainda quando se empresta nome para comprar carro, moto, abrir empresa e a pessoa nem faz um contrato, um termo, um e-mail, qualquer coisa que comprove que não é seu e que aquela pessoa lhe tem obrigações. É uma fé cega, faca amolada, por que a conta chega e o corte é profundo.

 

Como advogada dou muitas orientações jurídicas, mas se posso dar um conselho pra vida, por favor, leitores, nunca, em hipótese alguma empreste seu nome, seja para fazer uma conta de telefone, para comprar em seu cartão, para fazer um carnê ou crediário na praça. O ditado permanece: “quem empresta não presta”.

É discórdia certa, você vai se irritar, a outra pessoa vai se irritar em ser cobrado, sua família vai se irritar com você que não consultou ninguém antes de fazer a burrada, sua advogada de confiança vai se irritar muito, por que no Brasil não temos o hábito de consultar um(a) advogado(a) para tomar uma decisão importante, apenas quando a panela já emborcou, ou seja, depois das mancadas. Uma de nossas funções é lidar com conflitos, mas este é uma espécie que me incomoda como ser humano. Pois a vida da pessoa se desestrutura, o emocional, o casamento, o sono, a auto-estima, tudo fica de cabeça para baixo.

O Direito protege o nome e o abalo em seu crédito, em sua moral, ter nome sujo indevidamente , tudo isso é punido pela legislação, então perceber o quão grande é este PATRIMÔNIO: seu  NOME , seu CPF limpo, é primordial para uma mudança de comportamento e de vida.