Por Jurema Cintra Barreto
Advogada, amante de agricultura urbana e agora apaixonada por abelhas sem ferrão
De certo que muitos já conhecem meus declínios por horta em casa, agricultura urbana, permacultura, compostagem caseira e por isso criamos a Fan Page Help Horta para divulgar tais conhecimentos e compartilhar ideias criativas.
Outro dia a Eliane Brum, uma jornalista reconhecida publicou um artigo intitulado Todo inocente é um F.D.P. , todas nossas relações humanas, principalmente as de consumo estão interligadas. Pensar no alimento que ingerimos, no que entra em nossa casa é algo extremamente relevante. Daí que tentamos construir dia-a-dia um mini-pomar e uma horta urbana, a ideia é ter hortaliças orgânicas e uma farmácia viva com ervas medicinais.
Daí que chegam elas,: as abelhinhas e ficamos mega-felizes, enfim desde a escola primária aprendemos que elas ajudam a polinização, ok?? Mas tinha uma diferença, essas abelhudas além de saborear o néctar das flores, estavam chupando as frutas mesmo, devorando as pitangas e o que fazer?
É comum vermos pessoas, agricultores e até bombeiros colocando fogo em abelhas, de certo que temos medo de sermos ferroados, picados, enfim. Mas as bonitinhas que cá apareceram não tinham ferrão, eram pequenas, dóceis e pretas, tão diferentes!!! Sempre gostei de vê-las rondando as plantas por causa da polinização, mas as vezes me afastava com medo de picadas. Por intermédio do colega advogado Fabiano Resende, fui convidada para um Curso de Abelhas sem Ferrão, conhecido como “Meliponicultura”??? O quê? me xingou toda? Bem eu fui, pois além de conhecer a famosa Quinta da Paz em Ilhéus eu iria descobrir o que fazer com estas abelhudas. Neste dia voltei para “sala de aula”, aula de campo é claro, um “Meliponário Didático” Bem, eu tinha mesmo que descobrir este conhecimento fantástico. No início foi estranho, aquele pessoal da Biologia , cheio de termos técnicos(mais que o Direito)… Oxente? Me perguntei 3 vezes o que eu estava fazendo ali, no meio de biólogas, doutoras, produtores, técnicos. Mas vamos lá, a Quinta da Paz é linda, o proprietário paciente e as goiabas estavam ali, amarelas e prontinhas para o “furto” programado, e decidi ficar.
Descobri a roda, o fogo, descobri a internet, e minha ficha não havia caído(é, eu era do tempo do orelhão que a ficha durava 3 minutos e caía), redescobri o Brasil.
Nossa, eu adoro Mel e não sabia a riqueza que a Mata Atlântica tinha, que o país todo guarda em seus diferentes biomas. Elas estão na América Latina e o Brasil guarda o maior número delas, mais de 200 espécies de abelhas sem ferrão, dóceis, de manejo tranquilo, convivendo conosco todo este tempo. Atividade fantástica, a meliponicultura é sustentável, não prejudica o meio-ambiente, convive e precisa da mata, das floradas silvestres, mas se adapta em ambiente urbano. Quanta beleza nas abelhinhas brasileiras. A que mais conhecemos é a importada Apis africana que tem ferrão grande e veneno para inocular e viramos as costas para nossas espécies genuínas mansas e pacíficas.
Em apenas um dia de curso me apaixonei severamente, conheci pessoas dedicadas como a professora Paulina da CEPLAC e a professora Generosa Souza da UESB, a Genna, de uma generosidade em difundir o conhecimento que supera seu nome. Abrimos caixas, fizemos iscas, capturamos abelhas, transferimos ninhos e dividimos enxames, provamos todo tipo de mel, de abelha Uruçu Amarela, Jataí, Mandaçaia, vimos uma raridade, a abelha Plebéia, andamos a mata, trocamos experiências, conheci produtores urbanos, que tem suas lindas caixas racionais em casas e condomínios. Provamos Mel com sabor de abacaxi(tinha pés da fruta por perto), Mel rosado com gosto de jamelão, alguns dulcíssimos, outros mais azedinhos, é indescritível a sensação de provar tais iguarias, cada Mel coletado parece único!! Escrevi Mel com letras maiúsculas pois grandes são seus sabores e valores.
Eu, amante da agroecologia, filha de geógrafos, observadora da natureza, descobri um mundo até então obscuro para mim, a bio-diversidade em todas as suas minúsculas formas, as milhares de possibilidades do uso do Mel de Melíferas sem ferrão, uma riqueza natural que poderia se transformar em fonte de renda sustentável para a agricultura familiar brasileira.
Abelhinhas do meu quintal, obrigada pelo aparecimento, agora sei que vocês polinizam e muito minha horta e ainda irão produzir mel saboroso e único. Sempre achei maravilhoso servir para minha família e amigos saladas orgânicas, agora pense em servir mel colhido na hora, no quintal, e de floradas nativas? Além de sustentável é muito elegante não é?
Bee or not to be? Sem abelhas não existe alimento!!!