Um Réveillon em Ilhéus

Um Réveillon em Ilhéus

Praia, calor, alegria, festas, é tudo que espera o turista ao chegar em Ilhéus no Sul da Bahia nas férias de  final de ano.

São 100 km de praias lindas, coqueirais, cachoeiras, uma imensa zona rural cheia de segredos ainda pouco explorados como a Lagoa Encantada.

Mas o que poucos turistas sabem ou pesquisam são as precariedades da região. Além dos altos índices de pobreza, a falta de infraestrutura para o turismo, lixo nas praias e ruas ainda enfrentará engarrafamentos monstruosos em qualquer horário.

Podemos acrescentar a falta de investimento dos empresários locais. Depois de um 2015 em que a palavra mais falada foi crise, algumas festas de Réveillon 2016 foram um sucesso de bilheteria e público e um fracasso em organização. Pelas redes sociais vemos queixas das mais variadas. Me atenho a duas festas paradoxais e antagônicas, os tradicionais Réveillon do Batuba Beach(Olivença) e o Réveillon do Hotel Jardim Atlântico(Ilhéus).

Se você tem 15 anos de idade, com certeza irá adorar o Batuba Beach, complexo de lazer na praia de Olivença em  Ilhéus com grandes atrações de axé e pagode. Mas se você tem 30 anos e filhos e quer um pouco de conforto: esqueça! O local fica na Rodovia Ilhéus-Una, BA 001, pista simples e o transporte público que já é precário, fica ainda pior no verão, são ônibus lotados e abarrotados de pessoas, as Vans de Transfer bem como os ônibus das bandas e centenas de carros ficam todos travados na entrada da casa de Show. Existem alguns estacionamentos privados à margem da Rodovia que não oferecem nenhum ticket e segurança é  fictícia.

Nos portões de entrada dos camarotes muitas discussões sobre ingressos falsificados, impressão ruim daqueles obtidos na internet, seguranças grosseiros inclusive houve relatos de discussões acaloradas.

Estivemos no dia do show do Rappa , Saulo e O Quadro, as três atrações atrasaram apenas 01 hora, e foi muito bom em termo de qualidade musical e escolha das bandas. Até aí tudo bem, lembra, você tem 15 anos e só quer se divertir.

Agora experimenta ir de sandália aberta(rasteirinha),  o risco de cortar o pé é alto, pois não tem coletores ou lixeiras e o mar, digo oceano de latinhas de cerveja  no chão te atrapalha até de dançar. Experimenta ir com esta sandália no Banheiro “Ecológico”, realmente eu queria entender como um banheiro químico pode ser “ecológico”. É um mar de papel higiênico  e urina por todos os 4 cantos e para mulher é terrível, difícil se agachar, o vaso é alto, então o medo de tocar é imenso, você sai com aquela sensação que pode contrair 25 doenças venéreas.

Experimenta agora ir comprar cerveja, é uma fila imensa de um lado e o bar do outro, pronto você acabou de perder 20 minutos de show neste vai e vem. Daí você não tem outra alternativa a não ser ficar de “bico seco” sem cerveja demorada e por consequência sem banheiro imundo.

Não experimentei as barraquinhas de comida, mas confesso que não tenho coragem de comer cachorro quente em eventos na praia.

Acabou a festa, então você pensa que acabou o show de horrores? Que nada, na saída vemos confusão, muitos ambulantes, trânsito caótico, a Polícia Militar parecia mais estar à paisana e agentes de trânsito nem pensar. Carros se engalfinhando, discussões, ultrapassagens pelo acostamento absurdas, até mesmo de motoristas de táxi. Caros leitores, já tenho mais de 30 anos, realmente devo estar muito velha para não aguentar mais este tipo de estrutura. Amigos que foram no dia da virada só me relataram decepção, bandas boas, artistas maravilhosos  mas estrutura a desejar, no camarote Open Bar, vodcka de um lado,  energético no oposto e refrigerante em outro, um zig-zag infinito, cerveja quente, faltou comida e na pista faltou até ficha para vender cerveja.

Difícil entender tais questões, pois o espaço é próprio dos organizadores do evento, não é alugado,  e a cada ano, mais e mais pessoas comparecem, então por que não oferecer bons banheiros projetados, faxina permanente, bolsões coletores de latinha, treinamento aos seguranças e equipe ? Por que não construir um trevo de acesso na frente, ter transporte integrado ao evento saindo do Hotel Opaba(mesmo dono  da festa), fazer parceria com Prefeitura, Secretária de Trânsito e Polícia Militar para um trânsito com fluência e eficiência?

Não sou administradora, nem turismóloga, sou apenas uma consumidora exigente, lembrando que tudo isso por uma bagatela de R$400,00(camarote Vip All Inclusive com Buffet).

Daí que nossa experiência no Hotel Jardim Atlântico fora bem diferente.

O estacionamento privado do Hotel estava cheio, mas colocaram vários seguranças que organizavam o fluxo e vigiavam os carros na rua de Acesso, quando vimos tantas e tantas pessoas pensei que poderia ter as mesmas surpresas desagradáveis do dia anterior no Batuba. 1º ponto positivo- SEGURANÇA.

A recepção estava belíssima com ornamentação  temática de “roça de cacau”, as recepcionistas super-mega-hiper gentis nos receberam com sorriso no rosto. 2º ponto positivo – GENTILEZA

Tinha mesas de todos os tamanhos e para todos os grupos, desde individuais, até para grandes famílias, muitos sofás, lounges, área da piscina, muitas cadeiras. 3º ponto positivo – CONFORTO

O espaço infantil seguiu com atividades lúdicas até bem tarde, víamos muitas pais com seus filhos curtindo a festa juntos. 4º ponto positivo – INTERAÇÃO

Bebidas eram servidas sem parar, os garçons e garçonetes foram bem treinados, pois de uma gentileza sem igual, whisky bom, champagne, pro-seco, tudo servido em taças de vidro. Drink’s deliciosos preparados na hora. Buffet de frios de excelente qualidade e jantar quente(bacalhau e filé mignon) servido em inúmeras ilhas, também tinha acarajé e doces. Na virada todos recebemos MAIS uma Champagne em cada mesa, cada família estourou sua espumante vendo uma belíssima queima de fogos na praia. 5º ponto positivo – FARTURA

 

Teve cortejo Afro na Praia, Samba de Roda e Show de Capoeira, foi belíssima a valorização da nossa cultura afro-baiana. A Banda era regional, mas tocou demais, todos muito bem vestidos, CIRCUITO FECHADO já é “arroz de festa”, prata da casa e não decepcionou, levou por cerca de 4 horas e a pista de dança ficava lotada.  DJ finalizou o dia. 6º ponto positivo – MÚSICA BOA e CULTURA AFROBAIANA

A higiene do espaço estava impecável , todo momento os garçons recolhiam os copos já usados e substituíam por outros de vidro, equipe de serviços gerais e jardinagem não deixavam lixo no chão e havia banheiros químicos para homens e banheiros fixos para mulheres, devia ter tirado foto, pois o banheiro é lindo, ornamentado, florido, higienizado a todo momento, com arquitetura adequada para beira-mar,  ou seja, mulheres podem beber tranquilas que não irão passar aquele sufoco narrado acima. Último ponto positivo: LIMPEZA E HIGIENE.

Tudo isso por R$360,00, quase o mesmo do Batuba,  sem bandas famosas e artistas de renome, mas como muito conforto e requinte. Então se você tem entre 18 ou 98 anos acredito que este artigo dará uma visão do que escolher nos próximas viradas de ano, digo 18, pois no último dia de recesso da Justiça baiana em 2015 a juíza da Vara da Infância proibiu a entrada de menores mesmo que estivessem acompanhado dos  pais no Batuba Beach.

Segurança, Gentileza, Conforto, Interação, Fartura, Música Boa, Cultura afrobaiana, Limpeza e Higiene, 9 elementos que me fazem acreditar que a escolha do Hotel Jardim Atlântico foi a melhor para nós.  Para reservar sua próxima estada em Ilhéus veja o Booking

 

Próximos Réveillons penso em não mais passar por aqui, quando a gente mora no Paraíso como Ilhéus,os feriados parecem o Inferno.

Este artigo  não teve qualquer tipo de patrocínio de nenhuma empresa citada e reflete as impressões pessoais da escritora.

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Com o Whatsapp descobri que não sou Deus

Com o Whatsapp descobri que não sou Deus

Depois que uma mãe colocou em uma rede social que não iria ser assistente pessoal de sua filha, quando criticou um Grupo de Whatsapp de mães do colégio em que a mesma estudava, fez muito sucesso e fiquei a refletir sobre seus motivos e associá-los à minha vida de advogada militante.

O grupo de mães trocava ideias de livros, lembravam dos deveres escolares, comentava sobre os professores, veja a matéria completa na BBC.

A filha não tinha mais responsabilidades , por que tudo os pais discutiam, sabiam de todos os eventos e faziam tudo por seus filhos que se tornaram coadjuvantes ao invés de protagonistas na sua própria educação. Noélia, a mãe, recebeu muitas críticas e muitos apoios, como tudo na pseudo-democrática internet.

Então me veio algumas reflexões sobre minha própria profissão de advogada e os famosos grupos de Whatsapp. Como qualquer pessoa de meu tempo participo de alguns, mas depois de muito tentar acompanhar as milhares de mensagens que vão desde temas jurídicos, irritantes mensagens de bom dia até o proselitismo religioso contumaz, descobri algo incrível.

Descobri que não sou Deus! Isso, descobri que não sou onisciente, nem onipotente, nem onipresente. Caros leitores, resguardando minha sanidade mental penso que em breve estarei me desconectando deste “monstro” que se tornou a rede social Whatsapp.

Nesta descoberta fantástica de que não tenho poderes sobrenaturais para ler tudo que me enviam, estar em todos os grupos ao mesmo tempo, acompanhar em tempo real as contra-producentes discussões jurídicas sobre o campeonato brasileiro, também descobri que não tenho como trabalhar 24 horas por dia para meus clientes que mandam mensagens “oraculares” as 11 horas da noite sempre com a mesma frase: “E aí, meu processo? Alguma novidade?”

Realmente eu fico curiosa em saber qual a novidade que posso dar a alguém às 23 horas a não ser o óbvio: senhor seu advogado precisa de uma boa noite de sono para produzir amanhã e trabalhar em seu processo. Uma amiga me confidenciou que até desliga o celular de noite, afinal se receber uma notícia ruim, como a morte de uma parente longe, o que ela poderá fazer? Sair de madrugada nervosa e sozinha numa estrada escura é que não vai acontecer.

Esta ideia de estarmos conectados o tempo todo de forma onipresente é falaciosa, os aplicativos sugerem isto, uma conexão extrema, uma presença constante, mas estranhamente pessoas que ficam muito tempo conectadas virtualmente estão cada vez mais desconectadas presencialmente. Comum vermos pessoas com 5000 amigos no Facebook e ninguém para tomar um sorvete no fim de semana. Conversamos com estranhos na internet e não damos bom dia à ascensorista do elevador que vemos todos os dias.

No caso dos Grupos de Whatsapp de advogados e advogadas as discussões jurídicas que deveriam ser saudáveis já geraram inimigos mortais e até ameaças de processos reais. Mas o que mais se assemelha aos caso do desabafo da mãe espanhola que se recusava em ser assistente da filha? É que os grupos viraram exatamente isto, assistente de advogados. Perguntas do tipo: Alguém tem o telefone de Dr. fulano? Alguém tem este modelo de petição? Alguém sabe se o fórum vai abrir hoje? Qual juiz está na Vara hoje? Qual o endereço do Juizado? Entro com liberdade provisória ou HC? Tudo isso poderia achar no Google ou no site da OAB ou numa simples ligação ou nos livros, mas por que quero perguntar a um grupo de 100 pessoas? Por que quero encontrar esta informação trivial na mente de 100 pessoas? Por que devo dar estas respostas à perguntas preguiçosas?

É certo que tais ferramentas são extremamente úteis e melhoraram muito nossa comunicação, o escritor Humberto Eco afirmava, no início da expansão da internet, que superar o lixo virtual era o grande desafio, quase 90% do que vemos ou temos acesso é absolutamente inútil.

Pouco vemos de trocas de ideias e experiências que nos tragam algo de novo. Não sou oráculo por isso ando cansada de grupos de Watsapp. Não sou assistente pessoal de ninguém, não sou Deus, não sou Oráculo e o mundo real do direito está lá “fora da casinha” para ser vivido e experimentado.