por Jurema | fev 15, 2019 | Blog, Giro Gastronômico, Turismo
Estava muito ansiosa para escrever, cheguei em casa morta de vontade de colocar para fora o meu amor ao Mel de Cacau. Li num site que Suco de Cacau era quase a mesma coisa que o mel e isso mexeu comigo, muito profundamente, então vamos à ODE.
Ó Mel de Cacau
Ó líquido que escorre silenciosamente do fruto ouro.
Quando o facão afiado rompe a casca, tu estás ainda adormecido
Ó tempo, ó céu, ó vento, açoita a polpa branca tão sutilmente, e o faz despertar
Só o olhar atencioso do peão debaixo do cacaueiro é capaz de notar que tu estás ali
Latente, inerte, pronto para irromper
As amêndoas, amontoadas.
Ó tu, que repousa nas folhas de bananeira
Meticulosamente, empiricamente, poeticamente inclinadas nas madeiras calejadas
O tempo… vai mostrando tua mais pura forma
pelas folhas de banana escorrendo até os potes improvisados te encontrar
Tua límpida preciosidade aparecendo em forma de mel
Mel de Cacau, agora eu te vejo, líquido e também viscoso
Não tão consistente como das abelhas, tuas irmãs de mata
Não tão aquoso.
Oras, não és água?
Oras, não és mel?
Doce, muito doce, dulcíssimo e azedo
Tanta paciência para te esperar
tanta pressa para te provar
O tempo te castiga, logo se perde
Não se tem mais nada a perder
Urge te beber, urge se deliciar contigo
Da frieza da folha de banana, o calor em minutos te fermenta
Corre, apressa-te, o Mel está pronto
Tu que és doce e azedo
Tu que és viscoso e aquoso
Tu que serve da geleia ao molho de peixe
Tu que vai do doce ao salgado
Tu que és paradoxal
Tu que és pura dicotomia
Tu que és antagônico
Tu que reúne tudo em um único momento sublime de ser
Mel de Cacau GRAPIÚNA.
Por Jurema Cintra Barreto, advogada militante, viajante, e apaixonada pelas riquezas do Sul da Bahia
por Jurema | mar 27, 2016 | Blog, Consumo Consciente, Help Horta
Por Jurema Cintra Barreto
Advogada, amante de agricultura urbana e agora apaixonada por abelhas sem ferrão
De certo que muitos já conhecem meus declínios por horta em casa, agricultura urbana, permacultura, compostagem caseira e por isso criamos a Fan Page Help Horta para divulgar tais conhecimentos e compartilhar ideias criativas.
Outro dia a Eliane Brum, uma jornalista reconhecida publicou um artigo intitulado Todo inocente é um F.D.P. , todas nossas relações humanas, principalmente as de consumo estão interligadas. Pensar no alimento que ingerimos, no que entra em nossa casa é algo extremamente relevante. Daí que tentamos construir dia-a-dia um mini-pomar e uma horta urbana, a ideia é ter hortaliças orgânicas e uma farmácia viva com ervas medicinais.
Daí que chegam elas,: as abelhinhas e ficamos mega-felizes, enfim desde a escola primária aprendemos que elas ajudam a polinização, ok?? Mas tinha uma diferença, essas abelhudas além de saborear o néctar das flores, estavam chupando as frutas mesmo, devorando as pitangas e o que fazer?
É comum vermos pessoas, agricultores e até bombeiros colocando fogo em abelhas, de certo que temos medo de sermos ferroados, picados, enfim. Mas as bonitinhas que cá apareceram não tinham ferrão, eram pequenas, dóceis e pretas, tão diferentes!!! Sempre gostei de vê-las rondando as plantas por causa da polinização, mas as vezes me afastava com medo de picadas. Por intermédio do colega advogado Fabiano Resende, fui convidada para um Curso de Abelhas sem Ferrão, conhecido como “Meliponicultura”??? O quê? me xingou toda? Bem eu fui, pois além de conhecer a famosa Quinta da Paz em Ilhéus eu iria descobrir o que fazer com estas abelhudas. Neste dia voltei para “sala de aula”, aula de campo é claro, um “Meliponário Didático” Bem, eu tinha mesmo que descobrir este conhecimento fantástico. No início foi estranho, aquele pessoal da Biologia , cheio de termos técnicos(mais que o Direito)… Oxente? Me perguntei 3 vezes o que eu estava fazendo ali, no meio de biólogas, doutoras, produtores, técnicos. Mas vamos lá, a Quinta da Paz é linda, o proprietário paciente e as goiabas estavam ali, amarelas e prontinhas para o “furto” programado, e decidi ficar.
Na aula de campo, alunos atentos, professora mais que Generosa
Descobri a roda, o fogo, descobri a internet, e minha ficha não havia caído(é, eu era do tempo do orelhão que a ficha durava 3 minutos e caía), redescobri o Brasil.
Nossa, eu adoro Mel e não sabia a riqueza que a Mata Atlântica tinha, que o país todo guarda em seus diferentes biomas. Elas estão na América Latina e o Brasil guarda o maior número delas, mais de 200 espécies de abelhas sem ferrão, dóceis, de manejo tranquilo, convivendo conosco todo este tempo. Atividade fantástica, a meliponicultura é sustentável, não prejudica o meio-ambiente, convive e precisa da mata, das floradas silvestres, mas se adapta em ambiente urbano. Quanta beleza nas abelhinhas brasileiras. A que mais conhecemos é a importada Apis africana que tem ferrão grande e veneno para inocular e viramos as costas para nossas espécies genuínas mansas e pacíficas.
Em apenas um dia de curso me apaixonei severamente, conheci pessoas dedicadas como a professora Paulina da CEPLAC e a professora Generosa Souza da UESB, a Genna, de uma generosidade em difundir o conhecimento que supera seu nome. Abrimos caixas, fizemos iscas, capturamos abelhas, transferimos ninhos e dividimos enxames, provamos todo tipo de mel, de abelha Uruçu Amarela, Jataí, Mandaçaia, vimos uma raridade, a abelha Plebéia, andamos a mata, trocamos experiências, conheci produtores urbanos, que tem suas lindas caixas racionais em casas e condomínios. Provamos Mel com sabor de abacaxi(tinha pés da fruta por perto), Mel rosado com gosto de jamelão, alguns dulcíssimos, outros mais azedinhos, é indescritível a sensação de provar tais iguarias, cada Mel coletado parece único!! Escrevi Mel com letras maiúsculas pois grandes são seus sabores e valores.
Enxame de abelha Jataí -Foto Quinta da Paz
Abelhas Uruçu amarela- foto Quinta da Paz
Mel rosado de Jatái
produtos da meliponicuçltura
Eu, amante da agroecologia, filha de geógrafos, observadora da natureza, descobri um mundo até então obscuro para mim, a bio-diversidade em todas as suas minúsculas formas, as milhares de possibilidades do uso do Mel de Melíferas sem ferrão, uma riqueza natural que poderia se transformar em fonte de renda sustentável para a agricultura familiar brasileira.
Abelhinhas do meu quintal, obrigada pelo aparecimento, agora sei que vocês polinizam e muito minha horta e ainda irão produzir mel saboroso e único. Sempre achei maravilhoso servir para minha família e amigos saladas orgânicas, agora pense em servir mel colhido na hora, no quintal, e de floradas nativas? Além de sustentável é muito elegante não é?
Bee or not to be? Sem abelhas não existe alimento!!!