O que a Chapada Diamantina Sul tem ?

O que a Chapada Diamantina Sul tem ?

Se você já foi 02, 05, 06 vezes na Chapada Diamantina, absoluta certeza que viu pouca coisa.

Como tudo aqui é longe, é possível que falte 70% do território para explorar.

Vou passar um roteiro de 5 dias que fiz para uma amiga e deu super certo, por que conheço as distâncias e os “cantinhos” escondidos deste paraíso, às vezes fico até com dó de contar pra vocês, por que o refúgio, não pode deixar de ser refúgio.

VIAGEM PARA Serra da Raposa + Ibicoara

1º DIA

(09:30)- saída de Ilhéus via BA 262- Uruçuca

Sugestão de almoço: Pitu em Jitaúna no Júlia e CIA

073-998041743

Segue estrada via Jequié – BR 330 – BA 026  – BA 142 via Ituaçu

Sigam por Ibicoara

Chegada – colheita de morangos orgânicos no Café Canjerana(muito bom para fazer sucos e tomar com espumante

Ida para Raposa antes do anoitecer – Ibicoara- Campo Redondo- Raposa

Parada no mirante da Raposa(banco com vista bem legal, principalmente no por do sol)

17:30 – check- in Chalé das Mangabas

Contemplação da LUA e estrelas; é acompanhar o por do sol e ver a mágica acontecer no Paredão da Serra da Raposa com direito a fogo de chão, roda de fogueira, carta de vinhos selecionados e até jantar romãntico.

2º DIA

09:00 – saída para a Cachoeira do Buracão- Parque Municipal do Rio Espalhado

              Levar Kit lanche e agendar com guia com antecedência

09:30- Café da Manhã na PADOCA e encontro com o guia/condutor

             Dia inteiro no Buracão e ainda ver o Por do Sol no Mirante do campo redondo + tirolesa

Comer pastel de Jaca ou jantar no Bistrô A Camponesa

Opte por encaixar o Buracão em dia de semana, por que sábado, domingo e feriados tem muita gente.

3º DIA

Trilha da Cachoeira do Licuri (Nível leve e aut-guiada) , são 08 km do Chalé das Mangabas. Você chega na entrada de carro, paga aluguel de um colete e caminha cerca de 20 minutos ou a Trilha das pinturas Rupestres ou Cachoeira da Vendinha (nível médio tem de levar lanche  ir com guia) – saída à pé pelo Chalé das Mangabas, é um passeio bem exclusivo e pode agendar tudo com a Taliva e o Romário, são irmãos e moradores locais.

Levar kit lanche e sair mais cedo por causa do sol

Almoço na casa dos nativos – Galinha Caipira com Godó ou palma (reservar com Taliva ou Dona Neia )

De tarde ainda dá para ir no Poço do Rio da Raposa , em que você chega de carro,  tem apenas 1 escada para descer ou fazer passeio de Ebike com Bike Lodge .

4º DIA

Acordar mais tarde e andar pelos arredores do Chalés das Mangabas

12:00 – almoço na vinícola UVVA (reservar pelo Whatsapp) – Sugestão Carne de Sol de Cordeiro

14:30 – tour completo na UVVA

Por do sol na Uvva e wine bar

(Obs: eles são super rigorosos com horário, se agendar tem de chegar mais cedo)

17:00 – andar pelas ruas de Mucugê, visitar lojinhas

19:00 – jantar no Odeon Bistrô que tem um arroz vermelho muito bom

5º DIA

Retorno para Ilhéus via Jequy (estrada de chão )

– Seguir na casa de cultura para Direita

– Povoado do Campo do Meio

– Povoado do Jequy – tem a linha do trem e casas centenárias

– Povoado do Cobreiro

– Iramaia

– BR 330

 É estrada de Chão, mas pensa uma caatinga LINDA , ESSE CAMINHO É UMA AVENTURA EM SI

BAIXE SEMPRE O MAPA OFF LINE e na dúvida pergunte nas casas, Iramaia, é um deserto populacional

Quer ver fotos de todo esse passeio ? Ficou curioso ? Segue lá @chaledasmangabas

Deixei apenas texto para facilitar você copiar e adaptar. Os hóspedes do Chalé das Mangabas recebem um guia de boas-vindas em PDF com todas as informações detalhadas e contatos de cada guia e morador, clique aqui para reservas.

Leia também : Como é o Povoado da Raposa

Aniversário na Vinícola Uvva – como foi

Iramaia também é Chapada Diamantina

Onde comer no Centro histórico de Ilhéus

Onde comer no Centro histórico de Ilhéus

Tudo aqui em Ilhéus é escondidinho, já que a política pública turismo é inexistente. tem locais muito legais e vamos então ajudar na divulgação.

Se você está de passagem por Ilhéus para ir à outro destino, só digo que é uma pena, aqui tem 487 anos de história, apesar de tentarem apagar sua memória, deixando prédios caírem, matando árvores sem qualquer laudo técnico ou necessidade, privatizando praças históricas.

Mas vamos lá, um city tour com guia é FUNDAMENTAL, sozinho você vai andar e achar sem graça, a história bem contada e narrada é essencial. Já falei aqui do Gregório, gosto dele de graça, um guia muito gentil, que faço questão de divulgar.

Depois da caminhada … humm.. vamos às guloseimas, ou durante o trajeto mesmo.

Mercado de Artesanato, tem o CUPULATE, Cupuaçu com Chocolate numa banca linda, ali do lado do palco, provem as cocadas de cacau artesanal.

No Calçadão da Marquês de Paranaguá, provem os SUCOS na lanchonete Berimbau, e claro prefiram o CACAU ou CACAU COM LEITE, este é uma refeição de tão cremoso. Já falei aqui que SUCO DE CACAU é um patrimônio e devia ser um produto turístico. Se você está vindo de carro para Ilhéus, confira nosso post sobre compras e TRAGA SEU ISOPOR, leve polpa de cacau, cupuaçu, cajá, graviola, são naturais, puras, sem conservantes e muito gostosas.

Se o tour está sendo pela tarde você anda pode provar o mini acarajé e mini-abará na Praça JJ Seabra, onde tem o Palácio Paranaguá e claro, vamos falar de chocolate.

Voltei de Gramado horrorizada com as péssimas opções de chocolate, a loja é linda, o produto é tenebroso, açucar puro e gordura hidrogenada.

Em Ilhéus você vai comer chocolate da mais alta qualidade na Cacau do Céu , trufas e barrinhas deliciosas.

Almoçar no centro? Claro que temos opções, bar Vesúvio tem à kilo MUITO BOM e QUARTA é divino o buffet árabe. O Sabor do sul e Berimbau também tem opções à kilo com muita comida baiana e claro, a Feijoada de Sodré com pratos tradicionais da Bahia à la carte e preço maravilhoso.

Noite ??? Sim, o centro histórico tem opções de comer, mas não de passear, tudo fecha, inclusive os atrativos históricos. Você pode jantar no Vesúvio e Bataclan a la carte, no Rei do Kafta tem sanduíches incríveis e baratos, tudo isso na Av. 2 de Julho e claro o meu preferido que é o Marostica, a melhor comida italiana de Ilhéus, e você pode levar seu vinho e os pratos são generosos e com excelentes preços.

Então curtam o Centro Histórico de Ilhéus e levem memórias afetivas incríveis da cidade.

Povoado da Raposa e Chalé das Mangabas

Povoado da Raposa e Chalé das Mangabas

Iramaia também é Chapada . Esse é o título do perfil com mais de 3.000 seguidores da Associação Cultural de Iramaia . Uma iniciativa de professoras da cidade para incentivar o ecoturismo . Município que fica situado na Chapada Diamantina Sul e que tem belezas até então escondidas .
Iramaia tem 10.752 habitantes segundo o censo do IBGE 2022 contudo, são 6 moradores por km2, isso representa quase um deserto populacional, para os amantes de aventuras é um território perfeito de paz e contemplação .
Destaca-se como cartão postal a imponente Cachoeira das Andorinhas .

Mas tem cerca de 04 anos que uma pequena comunidade tem chamado a atenção dos turistas de aventura , é o Povoado da Raposa , que fica 36 km da sede do município de Iramaia e 17 km do centro de Ibicoara. Recortado por uma Serra que leva o mesmo nome , famoso pela biodiversidade e abundância da espécie animal raposa, o Povoado tem histórias místicas de onças pintadas e pardas subindo e descendo o leito do Rio do Fundão .
Empreendimentos grandiosos como o Bike Lodge traz praticantes de Mountain Bike de todo o mundo, incentivadora pelo atleta Yuri Bogner .


Recentemente criada a Associação de Moradores , comerciantes e pequenos produtores da Serra da Raposa será presidida por uma mulher empreendedora, Taliva Pires que afirma : “nosso Povoado tem aquela cara de Chapada Diamantina raiz, as senhoras nas portas, os quintais cheios de frutas , e fogueira de noite , estou empreendendo com alimentação congelada para os turistas que já alugam casas e se hospedam por aqui , além de cuidar do café de altitude com minha família , eu amo viver na Raposa “.
Casas de aluguel com vistas panorâmicas de tirar o fôlego para a Cachoeira do Fundão , como Paraíso da Serra e Chalé das Mangabas estão ao lado do Camping Ecotur de Flávio Marçal o pioneiro na Raposa .
Pousadas com piscina de borda infinita e lagos naturais, a Raposa vem crescendo de forma sustentável, diferenciando-se de outras localidades.

Atrativos naturais como longos paredões de pinturas rupestres, Cachoeira da Vendinha e do Fundão, serra da Goiana , Mirantes e paredões para escalada atraem os praticantes de montanhismo como a Casa do Montanhista de Leonardo e o famoso e renomado fotógrafo Rui Resende que escolheu a Cachoeira Raizes para construir sua casa de campo com a família , é figurinha carimbada nas festividades da Raposa como o São João ideliazado pelo Instituto Torus que já se firmou no Calendário .


“Foi paixão a primeira vista , nasci em Seabra e carrego o sertão dentro de mim, uma colega agrônoma me chamou para participar de uma comunidade ecológica , topei no escuro , mas quando cheguei na Raposa o coração bateu mais alto, afirma Jurema Cintra , advogada e ambientalista , agora moradora e empreendera na Raposa . Montei o Chalé das Mangabas para mim, essa área de cerrado e campos rupestres beijando a floresta atlântica Diamantina é especial . São centenas de pés de mangaba de tamanho vultuoso, pedi para a arquiteta colocar tudo de fora para dentro do Chalé , as cores da mangaba, o couro das bruacas da feira, a palha do Bocapio de Seabra e o barro da Vaca Seca . Memórias de infância que rodeiam o charmoso Chalé das Mangabas que agora está disponível em plataformas de hospedagem.

O turismo comunitário é uma das prioridades da Associação de Moradores , enfatizou Taliva Pires , a presidente . Aqui na Raposa é só mandar um Zap que diversas casas preparam as comidas típicas da Chapada , o godó, a palma, o caxias, a galinha caipira, cobramos por pessoa e assim fortalecemos a economia rural colaborativa. Meu vizinho tem boi, o outro aipim, eu planto café e tem abacate , vamos fazendo compras entre si e isso fortalece a comunidade .

Mais informações no instagram @iramaiaechapada e @casa_de_cultura_da_raposa @chaledasmangabas

Leia também: Iramaia também é Chapada

Turistando em Ibicoara – 5 dias de cachoeiras

PUB Delicius – opção na noite de Ilhéus

PUB Delicius – opção na noite de Ilhéus

Tem tempinho que este post está no forninho, mas são tantos compromissos que eu havia adiado, enfim saiu.

Minhas noites são para dormir e ficar com os gatinhos mesmo, então fico por fora das baladas, mas como me tornei “pontalense”, aquela moradora típica do bairro Pontal, por vezes dou uma esticada, já que o PUB é quase meu vizinho.

É um antigo galpão de Cacau que foi lindamente reformado. O bairro tem tantas casas antigas, construídas antes da existência da ponte Lomanto Junior, só olhar com cuidado que o Pontal surpreenderá você.

Abre de quinta à sábado e sempre tem música ao vivo. Detalhe, sempre tem música BOA ao vivo. A programação você confere no instagram . Legal que além de música tem comidinhas gostosas, aperitivos e cerveja artesanal que é o carro chefe da casa.

São 08 biqueiras sempre com opções diferentes, como a Sour de Mel de Cacau, ou com Pitaya, várias IPAs e Irish, outras de trigo, Weiss. O gosto pela cerveja artesanal me pegou tem exatos 10 anos e desde então não parei mais de provar, é uma tentação, um prazer e um hobby.

O sistema do PUB é assim, você vai até o balcão e cadastra nome, celular e pega um cartão de consumo, tem mesas para ficar sentado e muita gente fica em pé nos tambores para dançar. Cheguem cedo que costumam ser pontuais.

Apreciem os quadros, que sempre tem exposições de algum artista ou fotógrafo, de vez em quando o PUB está presente em feiras itinerantes com suas cervejas Delicius, é muito bom ver a economia criativa da cidade florescer.

Para quem leu o post sobre hotéis econômicos, sabe que o Pontal tem tudo para se divertir de noite e bons preços de hospedagem, desde casas noturnas como Mar Aberto, barzinhos e restaurantes incrementados e tem o PUB Delicius. É super fácil de ir de Uber ou de carro, tem bastante local para estacionar ao redor, aceita cartão de crédito e os proprietários são bem gentis. Eu nem preciso dizer que a cerveja é gostosa não é ? Provem cada bico com prazer e não digam que cerveja artesanal é cara, em verdade o salário mínimo no Brasil que é desvalorizado e ganhamos pouco. A qualidade do produto se paga e os aperitivos são bem em conta.

Então se quiser curtir um forró de noite em Ilhéus, o PUB Delicius é uma boa opção a partir de quinta-feira. Desfrutem desta cidade maravilhosa e sua vida noturna que não é atribulada como Porto Seguro ou Itacaré, mas é bucólica e descontraída, como deve ser essa cidade grapiúna.

Leia também: Por que ficar mais dias em Ilhéus ?

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Se Umbuzeiro Falasse … A Peleja entre o Umbuzeiro e o Roçador

Se Umbuzeiro Falasse … A Peleja entre o Umbuzeiro e o Roçador

Por Marialvo Barreto

Se você ainda não sabe
Vou lhe dizer o que é
O umbuzeiro é uma planta
Que na caatinga tem pé
Resistente a toda seca
Sagrado pra quem tem fé

É um símbolo do Nordeste
Onde o sol é de rachar
No tabuleiro e na serra
Em todo lugar estar
Só existe no sertão
Porque este é seu lugar

É uma moita fechada
Capricho da natureza
Sua sombra é muito fresca
É grande a sua beleza
Umbu é como se chama
O fruto que vai pra mesa

Da caatinga é a rainha
Das plantas que Deus criou
Alimenta rico e pobre
Analfabeto e doutor
E o sabor da sua fruta
Nosso povo consagrou

O sertanejo é quem chama
Sua fruta de imbu
E serve de alimento
Para mico e caititu
Pra bode, cabra e ovelha,
Guará, raposa e tatu

Tem umbu que é bem doce
Como o mel de uma flor
Também quando é azedo
Na boca chega dar dor
Faz bode berrar zangado
Relegando seu sabor

Tem umbu liso e redondo
Verde, maduro e inchado,
Grande, médio e pequeno,
Tem até umbu rachado
Tem do caroço miúdo
Pra se chupar descascado

A coisa que mais me alegra
É ver umbu “fulorar”
E escutar as abelhas
Com zum-zum-zum a voar
Ver o renovar da vida
Presente neste lugar

Na época das trovoadas
Depois do mês de setembro
Sua safra é de fartura
Ainda bem que me lembro
Do chão forrado de frutas
Em pleno mês de dezembro

No sertão tem o costume
De umbuzeiro dar nome,
Tem pé de umbu da pedra
Da cobra e do vagalume,
Da onça e da vaca seca
Da cacimba e do velame

Tem umbuzeiro de Tonha
De Zé de Sarapião,
De Zeca de Zé Pretinho
De Rosa e Mané Bião
De Bidé da Gameleira
E de Cosme Gavião

Outras frutas da caatinga
Correm o risco de acabar
Já não vejo mais o icó,
Cambuí e cambucá
Ah! Como tenho saudade…
Do gosto do trapiá

Quando o umbuzeiro cresce
Na beira de uma estrada
É açoitado de vara
Recebe muita pedrada
Fica todo arrebentado
De tanto levar pancada

A folha do umbuzeiro
É alimento sagrado
No desespero da seca
Vira comida de gado
E todo bicho que vive
Pelo sertão embrenhado

Mas nem tudo é alegria
Pelas grotas do sertão
Tem fazendeiro malvado
Raivoso e sem compaixão
Cortando pé de umbu
Pra plantar capim no chão

Devasta toda a caatinga
Sem dó e sem piedade
Corta até o umbuzeiro
Na mais dura crueldade
Sem falar no juazeiro
Pra completar a maldade

Acho muita malvadeza
Tirar raiz de umbuzeiro
Pra fazer doce de corte
E se trocar por dinheiro
E prejudicar a planta
No período do sequeiro

Se o umbuzeiro falasse
Eu passei a imaginar
Como seria a peleja
Com quem fosse lhe cortar
E leia com atenção
O que tenho pra contar

U aqui é umbuzeiro
R aqui é roçador
Vai ser uma peleja dura
De sentimento e de dor
Entre a bela natureza
E o ser devastador

U – Aqui eu nasci e cresci
Na seca deste torrão
Espalhado em toda parte
Pelas brenhas do sertão
Forneço sombra e alimento
Aos viventes deste chão

R – Estou de foice na mão
Pelo patrão enviado
Vou roçar esta caatinga
Deixar o mato virado
Arrumar tudo em coivara
Que pasto vai ser plantado

U – Com mais de quinhentos anos
Que nesta terra nasci
Nunca vi o seu patrão
Catando umbu por aqui
Vá e pergunte pra ele
Qual foi o mal que lhe fiz

R – O capataz me chamou
Pra fazer este serviço
Foi a mando patrão
Não vejo nenhum mal nisso
Receber sete reais
De diária o compromisso

U – Se você catar umbu
E for à feira vender
Vai aumentar o valor
Em dinheiro pra você
Vai dar sete vezes sete
É só conferir para crer

R – Mas se o imbu está verde
Como é que vou fazer?
Se já tivesse maduro
Quem sabe não ia ver
Se eu enchia um balaio
Pra na cidade vender

U – Sua pressa é sem razão
Veja o que vou lhe contar
Apressado come cru
Diz o dito popular
Estou lhe dando um conselho
Só quero lhe ajudar

R – No aço da minha foice
Ganho o pão de cada dia
Sustento mulher e filho
Lá na minha moradia
Vou derrubando caatinga
Que acho sem serventia

U – Deixe de ser rude homem
Que por aqui já lhe vi
Chupando umbu maduro
E quebrando licuri
Comendo fruta de palma
E caçando juriti

R – Isto já faz muito tempo
É coisa do meu passado
Na minha morada agora
Tem velhinho aposentado
Do mato tenho lembranças
De quando ‘tava apertado

U – Ainda me lembro bem
Quando aqui você chegou
Fez o trabalho e sumiu
Deixando grande fedor
Mas do umbu tinha caroço
Na “ruma” que tu deixou

R – Se imbuzeiro fosse
Planta que desse dinheiro
Seria coisa difícil
Só tinha no estrangeiro
Mas como só dá imbu
Vira pau de galinheiro

U – Do umbu faz doce e suco,
A saborosa umbuzada,
Vai misturada com leite
Com açúcar é adoçada
Reforçando o sertanejo
Na sua dura jornada

R – Faltam 10 pra meio dia
Vou a panela esquentar
A barriga já roncou
Vou minha fome matar
Debaixo deste imbuzeiro
Depois vou me descansar

U – Minha sombra agora serve
Para a tua maresia
Vou açoitar os meus galhos
Na força da ventania
Para lanhar as tuas costas
Cabra ruim sem serventia

R – Praga de urubu magro
Em boi gordo ela não pega
Aqui nesta terra vi
Saci montado na jega
Quebrando pé de imbu
Diabo que te carrega

U – Já comeu e descansou
Na sombra que eu te dei
Vai dizer pra teu patrão
Que o umbuzeiro é rei
Das plantas da caatinga
Está escrito na lei

R – Você quer me enrolar
Com esta conversa mole
Vou afiar minha foice
E depois tomar um gole
Pra enfrentar o roçado
E sustentar minha prole

U – Eu pensei que tu pensavas
Mas tu és cabeça dura
Do oco de baraúna
Nem o diabo te atura
Parece que tu és dele
A mais baixa criatura

R – Eu sou cristão batizado
Por São Cosme e Damião
Na capela de Santana
Rezo e tenho devoção
E no terreiro de Oxóssi
Faço a minha obrigação

U – Tua foice é arma fria
Que corta sem piedade
Quem ordena é teu patrão
Que mora lá na cidade
Tu vivendo na miséria
E ele na vaidade

R – O patrão quer terra limpa
Sem nada pra sombrear
No lugar de imbuzeiro
Plantar capim e zelar
Pra engordar a boiada
Mangote de marruá

U – Por aqui eu já estava
Quando o teu patrão chegou
Neste pedaço de terra
Que por teu avô passou
Deste modesto umbuzeiro
Muito umbu ele chupou

R – Conte esta história direito
Quero saber tudo agora,
O que teve o meu avô
Com esta terra outrora?
Responda com precisão
Pois tudo tem sua hora

U – Esta história é complicada
E posso lhe assegurar
Que seu avô era dono
De todo este lugar
E tirava da caatinga
O que ela tinha pra dar

R – Se meu avô era dono,
O que foi que aconteceu?
Se tinha família grande,
Por que será que vendeu?
Se também ninguém herdou,
Nem mamãe, nem pai, nem eu

U – Não foi venda foi um fato
Que a terra estremeceu
Teu avô foi emboscado
Tomou um tiro e morreu
Da arma do teu patrão
Que mandou tu matar eu

R – Minha foice agora pára
Não corto mais imbuzeiro
Esta terra ainda é minha
E não troco por dinheiro
Vou procurar a justiça
Pra não virar justiceiro

U – Viver muito eu agradeço
Foi a minha salvação
Isso faz cinqüenta anos
Que vi esta confusão
Veio me servir agora
Pra permanecer no chão

R – Não corto mais imbuzeiro
Escreva o que vou dizer
Do imbuzeiro o imbu
Da caatinga o bem-querer
No ronco da trovoada
Ver o mato florescer

U – Estou ficando sozinho
Só se ver pau derrubado
Já se foi a quixabeira,
É fogo pra todo lado
Até a Jurema preta
Tem seu destino selado

R – Minha foice derrubou
Muita jurema e arueira
Pau-de-rato e calumbi
Umburana e gameleira
Pra vender lenha no metro
E fazer compra na feira

U – O que tu diz é verdade
Não sei como aqui estou
No último roçado feito
O fogo me sapecou
Por sorte o vento virado
Pra chuva o tempo mudou

R – Até raiz de imbuzeiro
Já fui pro mato arrancar
Ralava em ralo bem fino
E espremia pra tirar
Água doce e cristalina
Pra minha sede matar

U – Você ainda tem jeito,
Percebe que eu servia,
Te dei água no passado
Também te dei rancharia
Tu namorando na moita
Quando a noite escurecia

R – Fico muito encabulado
Com esta sua intimidade
Isto já faz tanto tempo
Estava na flor da idade
Com a cabocla Rosinha
Eu me casei na cidade

U – Aqui eu vi o passado
Aqui estou no presente
Alimento a bicharada
O bicho temido é gente
Que roça e ateia fogo
Pelas costas e pela frente

R – Eu não pego mais em foice
No mato vou semear
Semente de imbu doce
Do que eu gosto de chupar
Nunca mais faço a besteira
De um Pé de imbu cortar

O umbu foi vencedor
Nesta estória que criei
Que quiser que conte outra
Porque esta eu já contei,
Externando meu desejo
Nas palavras que rimei.

O Autor: Marialvo Barreto, é nascido em Ipupiara, Bahia, filho de Amélia Barreto Cunha e Teotônio Barreto, estudou geografia na UFF em Niterói, professor universitário aposentado da UEFS-Universidade Estadual de Feira de Santana, foi vereador na mesma cidade por 2 mandatos. É escritor, poeta e cordelista. Conservacionista implanta o projeto de Recatingamento na sua pequena propriedade Flor de Alecrim no povoado da Matinha em Feira de Santana .

Chocolate com Umbu

Chocolate com Umbu

Como é possível unir duas paixões tão distintas?

O Umbu é uma fruta tipicamente brasileira, endêmica, por que só nasce no bioma Caatinga. Eu nasci em Seabra, no coração da Chapada Diamantina e centro da Bahia. Desde criança eu ficava sonhando em chegar o mês de dezembro, não só por causa do Natal, dos presentes comerciais, mas dos presentes naturais. Dezembro é mês de umbu e de mangaba, mas, sobre as mangabeiras, serão outras escritas.

Após provar um chocolate de umbu eu senti uma vontade avassaladora de escrever, dentro de mim algo estava pujante, deixei até de ir num compromisso ambiental, por que as palavras estavam me dominando.

Voltemos a infância em Feira de Santana, onde tem umbu, mas são mais tímidos, árvores menores, tinha muito mais cajá, então eu ficava sonhando com a viagem para Seabra na casa de vovó Amélia e chegar na feira e ter aqueles umbus enormes que vinham de Oliveira dos Brejinhos ou da Prata . Quando comecei a andar por Irecê e Jussara, e, descobri a roça de tio Licínio, foi uma paixão avassaladora, cada umbuzeiro digno de batismo e tombamento. Assim como na cidade de Sabará alugam 1 pé de jabuticaba para chupar, deveriam fazer com o umbuzeiro. É tanto umbu gostoso e diferente que fico imaginando a injustiça e tristeza de bilhões de pessoas no mundo que desconhecem este alimento. Partindo desta ótica, eu sou privilegiada demais, conheço centenas de pés de umbu.

Da infância para adolescência, parece aquela passagem de tempo de novela brasileira, mas com uma marca indelével, os dentes manchados de umbu, e desgastados, cada dia os dentes frontais mais deformados e quase sem solução, doíam e muito chupar umbu e tem as técnicas ancestrais de morder o galhinho novo de umbu para a resina proteger os dentes. Fiz tudo isso e faço, mas o desgaste vem.

Nada resolveu, fui até a idade adulta sofrendo com idas ao dentista e as técnicas de chupar umbu com uma faquinha na mão viraram rotina, por que agora sou proibida de morder virulentamente o fruto, é tudo descascado com a faca afiada e colocado na boca com cautela. Andanças e andanças mil, até que me mudo para Ilhéus, para estudar direito. Aqui não tem umbu, aqui é Mata Atlântica e Cabruca cheinha de cacau. Outro fruto entra em minha vida. Mas, na Bahia, tem a história dos ambulantes, então chega umbu nos carrinhos de mão, nas ruas do centro, na feira livre, mas nada se compara a chupar no pé, com aquela casca verde crocante, é uma sensação inigualável, única, um deleite aos ouvidos o “croc croc”, um sabor irresistível do cítrico e do açúcar. Chupar umbu no pé deveria ser atração turística com cobrança de ingresso e ticket.

Belo dia, descubro que meu pai escreveu um cordel com o título : “SE UMBUZEIRO FALASSE”, é uma obra prima da escrita e da poesia popular, Marialvo é geógrafo e chapadeiro de Ipupiara, amante da caatinga e conservacionista. Eu lia o texto e ia me derretendo em lágrimas, sonho em poder musicar e transformar numa peça de teatro, ou numa opereta, é uma obra prima da sociologia rural, das disputas de terra e injustiças sociais no campo e da biologia da conservação, só quem domina muito a língua e o tema é capaz de escrever com tamanha maestria. Sonho que este poema seja conhecido por todo o mundo.

Então a paixão pelo umbu, foi crescendo, pelo prazer do paladar, pela escrita de meu pai, pela importância da árvores no sertão e na ecologia.

E os dentes sofrendo, sofrendo ao ponto de todas as fotos de viagem ficarem sempre com aquele dentinho manchado, de tanto desgaste natural com o cítrico da fruta.

Só que o umbu começou a ter concorrência, a mudança para estudar nas terras grapiúnas de Ilhéus foi ficando mais longa, pós graduação, trabalho, casa própria, casamento, envolvimento comunitário e Cacau entrou definitivamente em minha vida. As viagens para Seabra e Feira de Santana ficaram menos constantes e o fruto ouro foi entrando sorrateiramente no meu cotidiano. É suco de cacau, é mel de cacau, é licor de cacau, é geleia. Mas, o chocolate fino foi bem devagar, a primeira vez que provei foi em 2004 na eleição para reitoria a UESC, o marido de professora Adélia, então candidata, trazia de lanche pra gente, uns bombons maravilhosos. Fausto nem podia imaginar o que fez conosco, despertou sensações únicas, momentos sensoriais impressionantes.

Mas não era fácil de achar e tudo ainda era muito novo neste universo em Ilhéus, a pobreza em face da crise econômica assolava as propriedades e fazendas. Até que um dia fui para um evento regional que se chama Festival do Chocolate, de stand em stand fui conhecendo um universo mágico e daí em diante não parei mais de provar essas “barrinhas”. São aventuras semanais de experimentação, até que na loja da Dengo onde vende multimarcas, me deparei com uma barrinha de Chocolate 70% e Umbu. A curiosidade foi imediata, oxe? como assim ? como pode ? quem faz ? quem criou ? quanto é ? como é ? da onde vem ? cheguei em casa e fiquei olhando a embalagem até decifrar este mistério, e bote oxe? melhor oxe oxe oxe, a gente repete 3três vezes.

O nome da barra é Mission Chocolate. Não sei nada sobre a marca e os idealizadores e isso que me encanta, escrever no escuro, não vi nada nas redes sociais, não li, não estou sugestionada, posso falar com pureza.

Eu já tinha algumas preferidas e agora aumentou a listinha das prioridades. Assim como Umbu é uma espécie funcional de grande relevância ecológica, esta barrinha ganhou grande relevância no meu universo particular de deleite.

São quadrados de geleia de umbu milimetricamente adicionados na barra, como uma obra de arte geométrica. Não sei quem criou isso, só sei que biologia da conservação é matemática, é cálculo, é estudo. Chocolate fino também, é o que vi e senti, até a embalagem é de uma delicadeza artística elaborada.

Um fruto amazônico e outro catingueiro, um fruto doce e outro ácido, um fruto da abundância de água e outro da escassez, um fruto de casca dura e outro de pele tenra, um fruto de sombra e outro de sol, e nesta dicotomia de frutos protegidos por povos ancestrais que se unem duas paixões que carrego em minha alma. Cacau e Umbu. Um muito obrigada às mãos talentosas que fez este chocolate que parece ser uma missão de vida como diz o nome da marca que acabei de conhecer.

Sobre os dentes? Ainda bem que surgiu a tal da faceta de resina e agora posso morder umbu de novo no pé, paixões preservadas pelo ecossistema e pela minha dentista.

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