Se você já foi 02, 05, 06 vezes na Chapada Diamantina, absoluta certeza que viu pouca coisa.
Como tudo aqui é longe, é possível que falte 70% do território para explorar.
Vou passar um roteiro de 5 dias que fiz para uma amiga e deu super certo, por que conheço as distâncias e os “cantinhos” escondidos deste paraíso, às vezes fico até com dó de contar pra vocês, por que o refúgio, não pode deixar de ser refúgio.
VIAGEM PARA Serra da Raposa + Ibicoara
1º DIA
(09:30)- saída de Ilhéus via BA 262- Uruçuca
Sugestão de almoço: Pitu em Jitaúna no Júlia e CIA
073-998041743
Segue estrada via Jequié – BR 330 – BA 026 – BA 142 via Ituaçu
Sigam por Ibicoara
Chegada – colheita de morangos orgânicos no Café Canjerana(muito bom para fazer sucos e tomar com espumante
Ida para Raposa antes do anoitecer – Ibicoara- Campo Redondo- Raposa
Parada no mirante da Raposa(banco com vista bem legal, principalmente no por do sol)
17:30 – check- in Chalé das Mangabas
Contemplação da LUA e estrelas; é acompanhar o por do sol e ver a mágica acontecer no Paredão da Serra da Raposa com direito a fogo de chão, roda de fogueira, carta de vinhos selecionados e até jantar romãntico.
2º DIA
09:00 – saída para a Cachoeira do Buracão- Parque Municipal do Rio Espalhado
Levar Kit lanche e agendar com guia com antecedência
09:30- Café da Manhã na PADOCA e encontro com o guia/condutor
Dia inteiro no Buracão e ainda ver o Por do Sol no Mirante do campo redondo + tirolesa
Comer pastel de Jaca ou jantar no Bistrô A Camponesa
Opte por encaixar o Buracão em dia de semana, por que sábado, domingo e feriados tem muita gente.
3º DIA
Trilha da Cachoeira do Licuri (Nível leve e aut-guiada) , são 08 km do Chalé das Mangabas. Você chega na entrada de carro, paga aluguel de um colete e caminha cerca de 20 minutos ou a Trilha das pinturas Rupestres ou Cachoeira da Vendinha (nível médio tem de levar lanche ir com guia) – saída à pé pelo Chalé das Mangabas, é um passeio bem exclusivo e pode agendar tudo com a Taliva e o Romário, são irmãos e moradores locais.
Levar kit lanche e sair mais cedo por causa do sol
Almoço na casa dos nativos – Galinha Caipira com Godó ou palma (reservar com Taliva ou Dona Neia )
De tarde ainda dá para ir no Poço do Rio da Raposa , em que você chega de carro, tem apenas 1 escada para descer ou fazer passeio de Ebike com Bike Lodge .
4º DIA
Acordar mais tarde e andar pelos arredores do Chalés das Mangabas
12:00 – almoço na vinícola UVVA (reservar pelo Whatsapp) – Sugestão Carne de Sol de Cordeiro
14:30 – tour completo na UVVA
Por do sol na Uvva e wine bar
(Obs: eles são super rigorosos com horário, se agendar tem de chegar mais cedo)
17:00 – andar pelas ruas de Mucugê, visitar lojinhas
19:00 – jantar no Odeon Bistrô que tem um arroz vermelho muito bom
5º DIA
Retorno para Ilhéus via Jequy (estrada de chão )
– Seguir na casa de cultura para Direita
– Povoado do Campo do Meio
– Povoado do Jequy – tem a linha do trem e casas centenárias
– Povoado do Cobreiro
– Iramaia
– BR 330
É estrada de Chão, mas pensa uma caatinga LINDA , ESSE CAMINHO É UMA AVENTURA EM SI
BAIXE SEMPRE O MAPA OFF LINE e na dúvida pergunte nas casas, Iramaia, é um deserto populacional
Quer ver fotos de todo esse passeio ? Ficou curioso ? Segue lá @chaledasmangabas
Deixei apenas texto para facilitar você copiar e adaptar. Os hóspedes do Chalé das Mangabas recebem um guia de boas-vindas em PDF com todas as informações detalhadas e contatos de cada guia e morador, clique aqui para reservas.
Tudo aqui em Ilhéus é escondidinho, já que a política pública turismo é inexistente. tem locais muito legais e vamos então ajudar na divulgação.
Se você está de passagem por Ilhéus para ir à outro destino, só digo que é uma pena, aqui tem 487 anos de história, apesar de tentarem apagar sua memória, deixando prédios caírem, matando árvores sem qualquer laudo técnico ou necessidade, privatizando praças históricas.
Mas vamos lá, um city tour com guia é FUNDAMENTAL, sozinho você vai andar e achar sem graça, a história bem contada e narrada é essencial. Já falei aqui do Gregório, gosto dele de graça, um guia muito gentil, que faço questão de divulgar.
Depois da caminhada … humm.. vamos às guloseimas, ou durante o trajeto mesmo.
Mercado de Artesanato, tem o CUPULATE, Cupuaçu com Chocolate numa banca linda, ali do lado do palco, provem as cocadas de cacau artesanal.
No Calçadão da Marquês de Paranaguá, provem os SUCOS na lanchonete Berimbau, e claro prefiram o CACAU ou CACAU COM LEITE, este é uma refeição de tão cremoso. Já falei aqui que SUCO DE CACAU é um patrimônio e devia ser um produto turístico. Se você está vindo de carro para Ilhéus, confira nosso post sobre compras e TRAGA SEU ISOPOR, leve polpa de cacau, cupuaçu, cajá, graviola, são naturais, puras, sem conservantes e muito gostosas.
Se o tour está sendo pela tarde você anda pode provar o mini acarajé e mini-abará na Praça JJ Seabra, onde tem o Palácio Paranaguá e claro, vamos falar de chocolate.
Voltei de Gramado horrorizada com as péssimas opções de chocolate, a loja é linda, o produto é tenebroso, açucar puro e gordura hidrogenada.
Em Ilhéus você vai comer chocolate da mais alta qualidade na Cacau do Céu , trufas e barrinhas deliciosas.
Almoçar no centro? Claro que temos opções, bar Vesúvio tem à kilo MUITO BOM e QUARTA é divino o buffet árabe. O Sabor do sul e Berimbau também tem opções à kilo com muita comida baiana e claro, a Feijoada de Sodré com pratos tradicionais da Bahia à la carte e preço maravilhoso.
Noite ??? Sim, o centro histórico tem opções de comer, mas não de passear, tudo fecha, inclusive os atrativos históricos. Você pode jantar no Vesúvio e Bataclan a la carte, no Rei do Kafta tem sanduíches incríveis e baratos, tudo isso na Av. 2 de Julho e claro o meu preferido que é o Marostica, a melhor comida italiana de Ilhéus, e você pode levar seu vinho e os pratos são generosos e com excelentes preços.
Então curtam o Centro Histórico de Ilhéus e levem memórias afetivas incríveis da cidade.
Iramaia também é Chapada . Esse é o título do perfil com mais de 3.000 seguidores da Associação Cultural de Iramaia . Uma iniciativa de professoras da cidade para incentivar o ecoturismo . Município que fica situado na Chapada Diamantina Sul e que tem belezas até então escondidas . Iramaia tem 10.752 habitantes segundo o censo do IBGE 2022 contudo, são 6 moradores por km2, isso representa quase um deserto populacional, para os amantes de aventuras é um território perfeito de paz e contemplação . Destaca-se como cartão postal a imponente Cachoeira das Andorinhas .
Mas tem cerca de 04 anos que uma pequena comunidade tem chamado a atenção dos turistas de aventura , é o Povoado da Raposa , que fica 36 km da sede do município de Iramaia e 17 km do centro de Ibicoara. Recortado por uma Serra que leva o mesmo nome , famoso pela biodiversidade e abundância da espécie animal raposa, o Povoado tem histórias místicas de onças pintadas e pardas subindo e descendo o leito do Rio do Fundão . Empreendimentos grandiosos como o Bike Lodge traz praticantes de Mountain Bike de todo o mundo, incentivadora pelo atleta Yuri Bogner .
Recentemente criada a Associação de Moradores , comerciantes e pequenos produtores da Serra da Raposa será presidida por uma mulher empreendedora, Taliva Pires que afirma : “nosso Povoado tem aquela cara de Chapada Diamantina raiz, as senhoras nas portas, os quintais cheios de frutas , e fogueira de noite , estou empreendendo com alimentação congelada para os turistas que já alugam casas e se hospedam por aqui , além de cuidar do café de altitude com minha família , eu amo viver na Raposa “. Casas de aluguel com vistas panorâmicas de tirar o fôlego para a Cachoeira do Fundão , como Paraíso da Serra e Chalé das Mangabas estão ao lado do Camping Ecotur de Flávio Marçal o pioneiro na Raposa . Pousadas com piscina de borda infinita e lagos naturais, a Raposa vem crescendo de forma sustentável, diferenciando-se de outras localidades.
Atrativos naturais como longos paredões de pinturas rupestres, Cachoeira da Vendinha e do Fundão, serra da Goiana , Mirantes e paredões para escalada atraem os praticantes de montanhismo como a Casa do Montanhista de Leonardo e o famoso e renomado fotógrafo Rui Resende que escolheu a Cachoeira Raizes para construir sua casa de campo com a família , é figurinha carimbada nas festividades da Raposa como o São João ideliazado pelo Instituto Torus que já se firmou no Calendário .
“Foi paixão a primeira vista , nasci em Seabra e carrego o sertão dentro de mim, uma colega agrônoma me chamou para participar de uma comunidade ecológica , topei no escuro , mas quando cheguei na Raposa o coração bateu mais alto, afirma Jurema Cintra , advogada e ambientalista , agora moradora e empreendera na Raposa . Montei o Chalé das Mangabas para mim, essa área de cerrado e campos rupestres beijando a floresta atlântica Diamantina é especial . São centenas de pés de mangaba de tamanho vultuoso, pedi para a arquiteta colocar tudo de fora para dentro do Chalé , as cores da mangaba, o couro das bruacas da feira, a palha do Bocapio de Seabra e o barro da Vaca Seca . Memórias de infância que rodeiam o charmoso Chalé das Mangabas que agora está disponível em plataformas de hospedagem.
O turismo comunitário é uma das prioridades da Associação de Moradores , enfatizou Taliva Pires , a presidente . Aqui na Raposa é só mandar um Zap que diversas casas preparam as comidas típicas da Chapada , o godó, a palma, o caxias, a galinha caipira, cobramos por pessoa e assim fortalecemos a economia rural colaborativa. Meu vizinho tem boi, o outro aipim, eu planto café e tem abacate , vamos fazendo compras entre si e isso fortalece a comunidade .
Mais informações no instagram @iramaiaechapada e @casa_de_cultura_da_raposa @chaledasmangabas
Tem tempinho que este post está no forninho, mas são tantos compromissos que eu havia adiado, enfim saiu.
Minhas noites são para dormir e ficar com os gatinhos mesmo, então fico por fora das baladas, mas como me tornei “pontalense”, aquela moradora típica do bairro Pontal, por vezes dou uma esticada, já que o PUB é quase meu vizinho.
É um antigo galpão de Cacau que foi lindamente reformado. O bairro tem tantas casas antigas, construídas antes da existência da ponte Lomanto Junior, só olhar com cuidado que o Pontal surpreenderá você.
Abre de quinta à sábado e sempre tem música ao vivo. Detalhe, sempre tem música BOA ao vivo. A programação você confere no instagram . Legal que além de música tem comidinhas gostosas, aperitivos e cerveja artesanal que é o carro chefe da casa.
São 08 biqueiras sempre com opções diferentes, como a Sour de Mel de Cacau, ou com Pitaya, várias IPAs e Irish, outras de trigo, Weiss. O gosto pela cerveja artesanal me pegou tem exatos 10 anos e desde então não parei mais de provar, é uma tentação, um prazer e um hobby.
O sistema do PUB é assim, você vai até o balcão e cadastra nome, celular e pega um cartão de consumo, tem mesas para ficar sentado e muita gente fica em pé nos tambores para dançar. Cheguem cedo que costumam ser pontuais.
Apreciem os quadros, que sempre tem exposições de algum artista ou fotógrafo, de vez em quando o PUB está presente em feiras itinerantes com suas cervejas Delicius, é muito bom ver a economia criativa da cidade florescer.
Para quem leu o post sobre hotéis econômicos, sabe que o Pontal tem tudo para se divertir de noite e bons preços de hospedagem, desde casas noturnas como Mar Aberto, barzinhos e restaurantes incrementados e tem o PUB Delicius. É super fácil de ir de Uber ou de carro, tem bastante local para estacionar ao redor, aceita cartão de crédito e os proprietários são bem gentis. Eu nem preciso dizer que a cerveja é gostosa não é ? Provem cada bico com prazer e não digam que cerveja artesanal é cara, em verdade o salário mínimo no Brasil que é desvalorizado e ganhamos pouco. A qualidade do produto se paga e os aperitivos são bem em conta.
Então se quiser curtir um forró de noite em Ilhéus, o PUB Delicius é uma boa opção a partir de quinta-feira. Desfrutem desta cidade maravilhosa e sua vida noturna que não é atribulada como Porto Seguro ou Itacaré, mas é bucólica e descontraída, como deve ser essa cidade grapiúna.
Se você ainda não sabe Vou lhe dizer o que é O umbuzeiro é uma planta Que na caatinga tem pé Resistente a toda seca Sagrado pra quem tem fé
É um símbolo do Nordeste Onde o sol é de rachar No tabuleiro e na serra Em todo lugar estar Só existe no sertão Porque este é seu lugar
É uma moita fechada Capricho da natureza Sua sombra é muito fresca É grande a sua beleza Umbu é como se chama O fruto que vai pra mesa
Da caatinga é a rainha Das plantas que Deus criou Alimenta rico e pobre Analfabeto e doutor E o sabor da sua fruta Nosso povo consagrou
O sertanejo é quem chama Sua fruta de imbu E serve de alimento Para mico e caititu Pra bode, cabra e ovelha, Guará, raposa e tatu
Tem umbu que é bem doce Como o mel de uma flor Também quando é azedo Na boca chega dar dor Faz bode berrar zangado Relegando seu sabor
Tem umbu liso e redondo Verde, maduro e inchado, Grande, médio e pequeno, Tem até umbu rachado Tem do caroço miúdo Pra se chupar descascado
A coisa que mais me alegra É ver umbu “fulorar” E escutar as abelhas Com zum-zum-zum a voar Ver o renovar da vida Presente neste lugar
Na época das trovoadas Depois do mês de setembro Sua safra é de fartura Ainda bem que me lembro Do chão forrado de frutas Em pleno mês de dezembro
No sertão tem o costume De umbuzeiro dar nome, Tem pé de umbu da pedra Da cobra e do vagalume, Da onça e da vaca seca Da cacimba e do velame
Tem umbuzeiro de Tonha De Zé de Sarapião, De Zeca de Zé Pretinho De Rosa e Mané Bião De Bidé da Gameleira E de Cosme Gavião
Outras frutas da caatinga Correm o risco de acabar Já não vejo mais o icó, Cambuí e cambucá Ah! Como tenho saudade… Do gosto do trapiá
Quando o umbuzeiro cresce Na beira de uma estrada É açoitado de vara Recebe muita pedrada Fica todo arrebentado De tanto levar pancada
A folha do umbuzeiro É alimento sagrado No desespero da seca Vira comida de gado E todo bicho que vive Pelo sertão embrenhado
Mas nem tudo é alegria Pelas grotas do sertão Tem fazendeiro malvado Raivoso e sem compaixão Cortando pé de umbu Pra plantar capim no chão
Devasta toda a caatinga Sem dó e sem piedade Corta até o umbuzeiro Na mais dura crueldade Sem falar no juazeiro Pra completar a maldade
Acho muita malvadeza Tirar raiz de umbuzeiro Pra fazer doce de corte E se trocar por dinheiro E prejudicar a planta No período do sequeiro
Se o umbuzeiro falasse Eu passei a imaginar Como seria a peleja Com quem fosse lhe cortar E leia com atenção O que tenho pra contar
U aqui é umbuzeiro R aqui é roçador Vai ser uma peleja dura De sentimento e de dor Entre a bela natureza E o ser devastador
U – Aqui eu nasci e cresci Na seca deste torrão Espalhado em toda parte Pelas brenhas do sertão Forneço sombra e alimento Aos viventes deste chão
R – Estou de foice na mão Pelo patrão enviado Vou roçar esta caatinga Deixar o mato virado Arrumar tudo em coivara Que pasto vai ser plantado
U – Com mais de quinhentos anos Que nesta terra nasci Nunca vi o seu patrão Catando umbu por aqui Vá e pergunte pra ele Qual foi o mal que lhe fiz
R – O capataz me chamou Pra fazer este serviço Foi a mando patrão Não vejo nenhum mal nisso Receber sete reais De diária o compromisso
U – Se você catar umbu E for à feira vender Vai aumentar o valor Em dinheiro pra você Vai dar sete vezes sete É só conferir para crer
R – Mas se o imbu está verde Como é que vou fazer? Se já tivesse maduro Quem sabe não ia ver Se eu enchia um balaio Pra na cidade vender
U – Sua pressa é sem razão Veja o que vou lhe contar Apressado come cru Diz o dito popular Estou lhe dando um conselho Só quero lhe ajudar
R – No aço da minha foice Ganho o pão de cada dia Sustento mulher e filho Lá na minha moradia Vou derrubando caatinga Que acho sem serventia
U – Deixe de ser rude homem Que por aqui já lhe vi Chupando umbu maduro E quebrando licuri Comendo fruta de palma E caçando juriti
R – Isto já faz muito tempo É coisa do meu passado Na minha morada agora Tem velhinho aposentado Do mato tenho lembranças De quando ‘tava apertado
U – Ainda me lembro bem Quando aqui você chegou Fez o trabalho e sumiu Deixando grande fedor Mas do umbu tinha caroço Na “ruma” que tu deixou
R – Se imbuzeiro fosse Planta que desse dinheiro Seria coisa difícil Só tinha no estrangeiro Mas como só dá imbu Vira pau de galinheiro
U – Do umbu faz doce e suco, A saborosa umbuzada, Vai misturada com leite Com açúcar é adoçada Reforçando o sertanejo Na sua dura jornada
R – Faltam 10 pra meio dia Vou a panela esquentar A barriga já roncou Vou minha fome matar Debaixo deste imbuzeiro Depois vou me descansar
U – Minha sombra agora serve Para a tua maresia Vou açoitar os meus galhos Na força da ventania Para lanhar as tuas costas Cabra ruim sem serventia
R – Praga de urubu magro Em boi gordo ela não pega Aqui nesta terra vi Saci montado na jega Quebrando pé de imbu Diabo que te carrega
U – Já comeu e descansou Na sombra que eu te dei Vai dizer pra teu patrão Que o umbuzeiro é rei Das plantas da caatinga Está escrito na lei
R – Você quer me enrolar Com esta conversa mole Vou afiar minha foice E depois tomar um gole Pra enfrentar o roçado E sustentar minha prole
U – Eu pensei que tu pensavas Mas tu és cabeça dura Do oco de baraúna Nem o diabo te atura Parece que tu és dele A mais baixa criatura
R – Eu sou cristão batizado Por São Cosme e Damião Na capela de Santana Rezo e tenho devoção E no terreiro de Oxóssi Faço a minha obrigação
U – Tua foice é arma fria Que corta sem piedade Quem ordena é teu patrão Que mora lá na cidade Tu vivendo na miséria E ele na vaidade
R – O patrão quer terra limpa Sem nada pra sombrear No lugar de imbuzeiro Plantar capim e zelar Pra engordar a boiada Mangote de marruá
U – Por aqui eu já estava Quando o teu patrão chegou Neste pedaço de terra Que por teu avô passou Deste modesto umbuzeiro Muito umbu ele chupou
R – Conte esta história direito Quero saber tudo agora, O que teve o meu avô Com esta terra outrora? Responda com precisão Pois tudo tem sua hora
U – Esta história é complicada E posso lhe assegurar Que seu avô era dono De todo este lugar E tirava da caatinga O que ela tinha pra dar
R – Se meu avô era dono, O que foi que aconteceu? Se tinha família grande, Por que será que vendeu? Se também ninguém herdou, Nem mamãe, nem pai, nem eu
U – Não foi venda foi um fato Que a terra estremeceu Teu avô foi emboscado Tomou um tiro e morreu Da arma do teu patrão Que mandou tu matar eu
R – Minha foice agora pára Não corto mais imbuzeiro Esta terra ainda é minha E não troco por dinheiro Vou procurar a justiça Pra não virar justiceiro
U – Viver muito eu agradeço Foi a minha salvação Isso faz cinqüenta anos Que vi esta confusão Veio me servir agora Pra permanecer no chão
R – Não corto mais imbuzeiro Escreva o que vou dizer Do imbuzeiro o imbu Da caatinga o bem-querer No ronco da trovoada Ver o mato florescer
U – Estou ficando sozinho Só se ver pau derrubado Já se foi a quixabeira, É fogo pra todo lado Até a Jurema preta Tem seu destino selado
R – Minha foice derrubou Muita jurema e arueira Pau-de-rato e calumbi Umburana e gameleira Pra vender lenha no metro E fazer compra na feira
U – O que tu diz é verdade Não sei como aqui estou No último roçado feito O fogo me sapecou Por sorte o vento virado Pra chuva o tempo mudou
R – Até raiz de imbuzeiro Já fui pro mato arrancar Ralava em ralo bem fino E espremia pra tirar Água doce e cristalina Pra minha sede matar
U – Você ainda tem jeito, Percebe que eu servia, Te dei água no passado Também te dei rancharia Tu namorando na moita Quando a noite escurecia
R – Fico muito encabulado Com esta sua intimidade Isto já faz tanto tempo Estava na flor da idade Com a cabocla Rosinha Eu me casei na cidade
U – Aqui eu vi o passado Aqui estou no presente Alimento a bicharada O bicho temido é gente Que roça e ateia fogo Pelas costas e pela frente
R – Eu não pego mais em foice No mato vou semear Semente de imbu doce Do que eu gosto de chupar Nunca mais faço a besteira De um Pé de imbu cortar
O umbu foi vencedor Nesta estória que criei Que quiser que conte outra Porque esta eu já contei, Externando meu desejo Nas palavras que rimei.
O Autor: Marialvo Barreto, é nascido em Ipupiara, Bahia, filho de Amélia Barreto Cunha e Teotônio Barreto, estudou geografia na UFF em Niterói, professor universitário aposentado da UEFS-Universidade Estadual de Feira de Santana, foi vereador na mesma cidade por 2 mandatos. É escritor, poeta e cordelista. Conservacionista implanta o projeto de Recatingamento na sua pequena propriedade Flor de Alecrim no povoado da Matinha em Feira de Santana .
O Umbu é uma fruta tipicamente brasileira, endêmica, por que só nasce no bioma Caatinga. Eu nasci em Seabra, no coração da Chapada Diamantina e centro da Bahia. Desde criança eu ficava sonhando em chegar o mês de dezembro, não só por causa do Natal, dos presentes comerciais, mas dos presentes naturais. Dezembro é mês de umbu e de mangaba, mas, sobre as mangabeiras, serão outras escritas.
Após provar um chocolate de umbu eu senti uma vontade avassaladora de escrever, dentro de mim algo estava pujante, deixei até de ir num compromisso ambiental, por que as palavras estavam me dominando.
Voltemos a infância em Feira de Santana, onde tem umbu, mas são mais tímidos, árvores menores, tinha muito mais cajá, então eu ficava sonhando com a viagem para Seabra na casa de vovó Amélia e chegar na feira e ter aqueles umbus enormes que vinham de Oliveira dos Brejinhos ou da Prata . Quando comecei a andar por Irecê e Jussara, e, descobri a roça de tio Licínio, foi uma paixão avassaladora, cada umbuzeiro digno de batismo e tombamento. Assim como na cidade de Sabará alugam 1 pé de jabuticaba para chupar, deveriam fazer com o umbuzeiro. É tanto umbu gostoso e diferente que fico imaginando a injustiça e tristeza de bilhões de pessoas no mundo que desconhecem este alimento. Partindo desta ótica, eu sou privilegiada demais, conheço centenas de pés de umbu.
Da infância para adolescência, parece aquela passagem de tempo de novela brasileira, mas com uma marca indelével, os dentes manchados de umbu, e desgastados, cada dia os dentes frontais mais deformados e quase sem solução, doíam e muito chupar umbu e tem as técnicas ancestrais de morder o galhinho novo de umbu para a resina proteger os dentes. Fiz tudo isso e faço, mas o desgaste vem.
Nada resolveu, fui até a idade adulta sofrendo com idas ao dentista e as técnicas de chupar umbu com uma faquinha na mão viraram rotina, por que agora sou proibida de morder virulentamente o fruto, é tudo descascado com a faca afiada e colocado na boca com cautela. Andanças e andanças mil, até que me mudo para Ilhéus, para estudar direito. Aqui não tem umbu, aqui é Mata Atlântica e Cabruca cheinha de cacau. Outro fruto entra em minha vida. Mas, na Bahia, tem a história dos ambulantes, então chega umbu nos carrinhos de mão, nas ruas do centro, na feira livre, mas nada se compara a chupar no pé, com aquela casca verde crocante, é uma sensação inigualável, única, um deleite aos ouvidos o “croc croc”, um sabor irresistível do cítrico e do açúcar. Chupar umbu no pé deveria ser atração turística com cobrança de ingresso e ticket.
Belo dia, descubro que meu pai escreveu um cordel com o título : “SE UMBUZEIRO FALASSE”, é uma obra prima da escrita e da poesia popular, Marialvo é geógrafo e chapadeiro de Ipupiara, amante da caatinga e conservacionista. Eu lia o texto e ia me derretendo em lágrimas, sonho em poder musicar e transformar numa peça de teatro, ou numa opereta, é uma obra prima da sociologia rural, das disputas de terra e injustiças sociais no campo e da biologia da conservação, só quem domina muito a língua e o tema é capaz de escrever com tamanha maestria. Sonho que este poema seja conhecido por todo o mundo.
Então a paixão pelo umbu, foi crescendo, pelo prazer do paladar, pela escrita de meu pai, pela importância da árvores no sertão e na ecologia.
E os dentes sofrendo, sofrendo ao ponto de todas as fotos de viagem ficarem sempre com aquele dentinho manchado, de tanto desgaste natural com o cítrico da fruta.
Só que o umbu começou a ter concorrência, a mudança para estudar nas terras grapiúnas de Ilhéus foi ficando mais longa, pós graduação, trabalho, casa própria, casamento, envolvimento comunitário e Cacau entrou definitivamente em minha vida. As viagens para Seabra e Feira de Santana ficaram menos constantes e o fruto ouro foi entrando sorrateiramente no meu cotidiano. É suco de cacau, é mel de cacau, é licor de cacau, é geleia. Mas, o chocolate fino foi bem devagar, a primeira vez que provei foi em 2004 na eleição para reitoria a UESC, o marido de professora Adélia, então candidata, trazia de lanche pra gente, uns bombons maravilhosos. Fausto nem podia imaginar o que fez conosco, despertou sensações únicas, momentos sensoriais impressionantes.
Mas não era fácil de achar e tudo ainda era muito novo neste universo em Ilhéus, a pobreza em face da crise econômica assolava as propriedades e fazendas. Até que um dia fui para um evento regional que se chama Festival do Chocolate, de stand em stand fui conhecendo um universo mágico e daí em diante não parei mais de provar essas “barrinhas”. São aventuras semanais de experimentação, até que na loja da Dengo onde vende multimarcas, me deparei com uma barrinha de Chocolate 70% e Umbu. A curiosidade foi imediata, oxe? como assim ? como pode ? quem faz ? quem criou ? quanto é ? como é ? da onde vem ? cheguei em casa e fiquei olhando a embalagem até decifrar este mistério, e bote oxe? melhor oxe oxe oxe, a gente repete 3três vezes.
O nome da barra é Mission Chocolate. Não sei nada sobre a marca e os idealizadores e isso que me encanta, escrever no escuro, não vi nada nas redes sociais, não li, não estou sugestionada, posso falar com pureza.
Eu já tinha algumas preferidas e agora aumentou a listinha das prioridades. Assim como Umbu é uma espécie funcional de grande relevância ecológica, esta barrinha ganhou grande relevância no meu universo particular de deleite.
São quadrados de geleia de umbu milimetricamente adicionados na barra, como uma obra de arte geométrica. Não sei quem criou isso, só sei que biologia da conservação é matemática, é cálculo, é estudo. Chocolate fino também, é o que vi e senti, até a embalagem é de uma delicadeza artística elaborada.
Um fruto amazônico e outro catingueiro, um fruto doce e outro ácido, um fruto da abundância de água e outro da escassez, um fruto de casca dura e outro de pele tenra, um fruto de sombra e outro de sol, e nesta dicotomia de frutos protegidos por povos ancestrais que se unem duas paixões que carrego em minha alma. Cacau e Umbu. Um muito obrigada às mãos talentosas que fez este chocolate que parece ser uma missão de vida como diz o nome da marca que acabei de conhecer.
Sobre os dentes? Ainda bem que surgiu a tal da faceta de resina e agora posso morder umbu de novo no pé, paixões preservadas pelo ecossistema e pela minha dentista.
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